Mineração, siderurgia, varejo e educação enfrentam dificuldades na bolsa de valores devido a fatores como ciclo de corte de juros, inflação, mercado de trabalho e previsões incertas.
Com o encerramento do trimestre de 2024, o Ibovespa tem sua lista atualizada com as 10 ações que mais se desvalorizaram, com destaque para os setores de tecnologia, energia e saúde. O mês de março chega ao fim juntamente com a divulgação dos resultados do quarto trimestre de 2023, momento em que algumas empresas listadas no Ibovespa sofrem quedas significativas.
A volatilidade do mercado acionário tem impactado diretamente no desempenho do Ibovespa, prejudicando principalmente as ações ligadas ao setor financeiro. Mesmo com a expectativa de recuperação no próximo trimestre, as incertezas políticas e econômicas continuam influenciando as oscilações do principal índice acionário brasileiro.
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Ibovespa em meio às expectativas frustradas
Antes de mais nada, uma pequena retrospectiva: o ano já começou com expectativas frustradas, com os adiamentos das previsões do sonhado começo do ciclo de corte de juros nos Estados Unidos. E, sim, isso afeta a renda variável do Brasil. Não é de se espantar que o Ibovespa, principal índice acionário do país, já tenha recuado 4,53% em 2024. No mês, a queda foi de 0,71%.
Em janeiro, a maior parte das apostas era de que o Banco Central americano (Federal Reserve) começaria a redução das taxas já em março. Doce ilusão. Na medida em que indicadores apontavam uma inflação fora do ideal e um mercado de trabalho ainda aquecido, as opiniões mudavam.
De março para maio, e de maio para junho e, agora, já há muitos que defendem que o afrouxamento só virá em julho.
Desafios para a renda variável brasileira
Enquanto isso não se define, a renda variável de países emergentes, como o Brasil, sofre com a saída de capital estrangeiro, que por aqui já chegou a retirar da bolsa metade de tudo que foi investido no ano. Foram mais de R$ 22 bilhões sacados da bolsa. O movimento se justifica porque esses investidores gringos preferem se refugiar na segurança e rentabilidade certeira da renda fixa dos Estados Unidos que se arriscar em águas mais inquietas como as brasileiras.
Mas as frustrações não vieram só dos Estados Unidos ou de conselhos das gigantes no Brasil. A China também trouxe decepções para quem esperava que finalmente a economia retomasse o crescimento com mais vigor. Mesmo com estímulos para o setor de construção, que é um dos pilares econômicos do país, os indicadores ainda apontam para um momento de enfraquecimento.
E quando a China não anda, as commodities brasileiras, sobretudo ligadas aos setores de mineração e siderurgia, porque a segunda maior economia do mundo é também o principal mercado de exportações desses produtos brasileiros. Este cenário arrastou os papéis dessas empresas para o time de lanternas do Ibovespa.
Gigantes controvérsias no mercado
Este primeiro trimestre também foi marcado por polêmicas nas duas empresas com maior peso no Ibovespa: Vale e Petrobras. A primeira caiu tanto que figura entre os piores desempenhos no acumulado do ano (veja mais detalhes a seguir).
A segunda aparece entre as maiores quedas de março, após anúncio de que os dividendos extraordinários (aqueles que vão além do mínimo definido na política da empresa) do quarto trimestre não seriam distribuídos. Este banho de água fria concretizou o temor de agentes que vinham evitando se expor aos papéis da estatal.
Apesar da valorização do petróleo, que beira os 13% de alta este ano, receios sobre a governança ainda afastam investidores.
Desafios e prejuízos no setor de varejo
O varejo no Brasil não tem um dia de paz. Novamente, a líder das quedas do Ibovespa é uma empresa do setor. Desta vez, o patinho feio foi as Casas Bahia, que acumula queda de 40% no ano.
Em cenário de juros altos, empresas que dependem mais de crédito e consumo acabam saindo prejudicada. De acordo com um levantamento do Valor, os balanços de 2023 apontam que essas companhias tiveram perdas contábeis de R$ 15,77 bilhões. A ação já vinha de um cenário pessimista com os sequentes prejuízos, sem gerar resultados satisfatórios ao mercado.
A percepção piorou mais após o balanço do quatro trimestre de 2023, quando reportaram endividamente elevado e um prejuízo bilionário decorrente de mais ajustes na reestruturação.
Desafios e oportunidades no setor de mineração
As companhias de mineração seguem de perto os movimentos do minério de ferro e a commodity foi uma das mais impactadas no trimestre. A desvalorização do material prima impacta o setor, pressionando as empresas e os investidores.
A desvalorização do minério de ferro afeta não apenas as empresas de mineração, mas também outras áreas, como a siderurgia. A China, principal mercado consumidor de minério, tem influenciado fortemente o mercado.
Especificamente para Vale e consequentemente a Bradespar, os imbróglios relacionados à tentativa de maior interferência política do governo na companhia com a notícia da indicação de Guido Mantega para a presidência da empresa também adicionaram pessimismo aos papéis.
Nos próximos meses, a expectativa é de uma retomada da produção entre as siderúrgicas da China, o que pode gerar um movimento positivo no mercado.
Reestruturação e desafios no varejo
Com o aumento de capital do Grupo Pão de Açúcar (GPA), a varejista francesa Casino, deixa de ser controladora do GPA. O Casino está em processo de reestruturação de dívida, e afirmou que sua participação no grupo será diluída e, assim, passará a deter apenas dois membros no conselho, onde antes detinham quatro de oito cadeiras.
Essa notícia acabou não agradando muito o mercado, por trazer uma indecisão quanto ao futuro. Além disso, o papel passa por um follow-on, com novas emissões de ações, que mantem o mesmo pressionado. A empresa segue pressionada pela alavancagem elevada e o cenário de juro alto, o que ainda traz pressão e prejuízo nos últimos resultados.
Desempenho no setor de construção e aviação
A MRV tem sido uma das promessas de bons retornos após o reforço ao programa de habitação popular Minha Casa Minha Vida. Mas, até agora, as apostas não foram consideradas suficientemente frutíferas para os investidores. As ações da incorporadora caíram 30% no trimestre, mas escaparam do ranking de piores quedas no mês de março.
No último dia de pregão do mês, a Azul despencou com tanta força que garantiu um cantinho entre as 10 maiores quedas do Ibovespa do trimestre. Com mais um período de prejuízo, mas desta vez o rombo foi de R$ 2,3 bilhões, 229,5% maior que o prejuízo de R$ 722 milhões que a empresa teve no ano anterior. As aéreas tendem a sofrer mais em período de juros mais altos, porque é quando o consumo cai e os juros aumentam a dívida das empresas.
As empresas enfrentam desafios e oportunidades no mercado acionário, e a movimentação do Ibovespa reflete essa realidade em meio a um cenário de incertezas e expectativas.
Fonte: @ Valor Invest Globo
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