Dores nas costas e pernas são comuns, sem causa específica. A lei 14.705/23 considera fatores de risco que impactam a qualidade de vida, a saúde e o sistema de saúde.
Recente pesquisa publicada no Brazilian Journal of Physical Therapy revelou que cerca de 27% das crianças e jovens brasileiros são impactados por dor musculoesquelética, que se caracteriza por dores em ossos, ligamentos e músculos, sem uma causa específica identificada.
A dor crônica é um dos principais sintomas relatados por quem sofre de dor muscular e dor óssea, podendo afetar significativamente a qualidade de vida e o bem-estar dos indivíduos. É importante buscar orientação médica para um diagnóstico preciso e um plano de tratamento adequado para lidar com esses desconfortos.
Dor musculoesquelética: um problema subestimado
Além de contribuir para desmistificar o problema, que, segundo os autores, é frequentemente subestimado por pais e profissionais da saúde, conhecer sua extensão permite planejar melhor os gastos com dor crônica em adultos, considerada a principal causa de incapacidade em todo o mundo. No Brasil, o Ministério da Saúde estima que mais de 35% dos brasileiros com mais de 50 anos sofram de dor crônica.
Fatores de risco e a lei 14.705/23
No ano passado, inclusive, foi sancionada a lei 14.705/23, que determina as diretrizes para o atendimento desses pacientes pelo Sistema Único de Saúde (SUS). Embora grande parte dos fatores de risco para a condição sejam pouco conhecidos, um dos mais bem estabelecidos é o histórico de dor prévia – com relatos na literatura científica sobre seu aparecimento na adolescência.
Dor musculoesquelética em crianças e adolescentes
Novo estudo responde ‘Ainda assim, ao redor do mundo, há poucos estudos sobre a prevalência de dor musculoesquelética entre jovens, com dados incertos, variando de 4% a 40%, porque não utilizam conceitos padronizados’, afirma Tiê Parma Yamato, pesquisadora associada da Universidade Cidade de São Paulo (Unicid) e da Universidade de Sydney (Austrália) que coordenou a investigação. ‘No Brasil, esse número parece variar de 20% a 45% de acordo com estudos prévios, porém, a grande maioria dos trabalhos investigou condições musculoesqueléticas específicas, não considerou o impacto da dor nas atividades de vida diária das crianças e adolescentes e foi realizada em cidades de pequeno porte.’ Na pesquisa coordenada por Yamato, que recebeu financiamento da FAPESP por meio de três projetos (17/17484-1, 19/10330-4 e 19/12049-0), 2.688 crianças e adolescentes com idade média de 12 anos, provenientes de 28 escolas públicas e privadas dos Estados do Ceará (cidade de Fortaleza) e de São Paulo (cidades de Itu, Salto, São Sebastião e São Paulo), responderam a um questionário com perguntas sobre a ocorrência de dor no corpo capaz de causar impacto em sua vida cotidiana, como faltar na escola e/ou impedir a realização de atividades do dia a dia e/ou esportivas.Entre esses jovens, 728 (27,1%) relataram ter sentido dor musculoesquelética incapacitante nos 30 dias anteriores.
Impacto da dor nas crianças e adolescentes
As costas foram a parte do corpo mais citada, por 51,8% dos entrevistados, seguida pelas pernas (41,9%) e pelo pescoço (20,7%). ‘Ao mesmo tempo que trazem um alerta para essa condição de saúde nas crianças e adolescentes, que no momento não conta com um protocolo de tratamento específico no sistema de saúde, esses números já nos estimulam a olhar para o futuro: precisaremos cuidar da população jovem também se quisermos diminuir a dor crônica nos adultos.’ O trabalho trouxe ainda outros dados importantes sobre as características das crianças que mais sentiam dor: eram mais velhas (final da adolescência), mantinham pior relacionamento com a família, apresentavam mais sintomas negativos psicossomáticos, tinham menos qualidade de vida (também avaliada por questionários) e pareciam gastar mais tempo assistindo televisão e jogando videogame.
Percepção dos pais e a crença na ‘dor do crescimento’
O mito da dor do crescimento. Além da participação das crianças no estudo, seus pais também preencheram um formulário sobre a condição de saúde dos filhos e sua percepção sobre esse tipo de dor. ‘A literatura mostra que os pais tendem a subestimar as queixas das crianças possivelmente por não possuírem um entendimento claro do que é dor na infância e nós confirmamos que isso ocorre em 17% dos casos’, relata Yamato. Um dos fatores que podem explicar essa atitude e também camuflar, de certa forma, a dor musculoesquelética é a crença na popular ‘dor do crescimento’, que se refere a um possível incômodo das crianças nos membros, especialmente inferiores. ‘Crescemos com esse conceito, mas, hoje, na literatura científica, não há nenhum estudo que consiga provar que o crescimento cause de fato dor.’ De acordo com a pesquisadora, se o seu filho relatar dor, é importante ter a consciência de que ela pode trazer impactos, mas que também há formas de abordá-la – a maior parte das medidas é baseada em atividade física. ‘Não há motivo para preocupação excessiva, mas é importante conhecer a condição, validar o sintoma e possivelmente buscar ajuda para aqueles que têm suas vidas impactadas pela condição.
Estudos futuros e impacto financeiro
Um estudo seguinte conduzido pelo mesmo grupo, cujos resultados devem ser divulgados em breve, acompanhou essas crianças por um ano e meio para entender a duração da dor e também seu impacto financeiro no sistema de saúde. O artigo ‘Prevalence of disabling musculoskeletal pain in children and adolescents in Brazil: A cross-sectional study’ pode ser lido em: www.sciencedirect.com/science/article/abs/pii/S0042. Tópicos Criança Estudo Compartilhe:
Fonte: © CNN Brasil
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